Instalações Exclusivas: Arte que Ganha Vida no Noviciado
Alguns dos artistas mais talentosos criaram obras exclusivas diretamente nas instalações do Noviciado Nossa Senhora das Graças, trazendo um novo olhar para os espaços históricos deste local. Cada ambiente do convento será transformado em uma verdadeira galeria viva, onde as obras dialogam diretamente com a arquitetura, o passado e as emoções que permeiam o espaço.
Nesta seção da exposição "Para Falar de Amor", vamos mergulhar em narrativas únicas, onde cada instalação foi pensada especialmente para o Noviciado, refletindo sua história e o espírito de renascimento que este evento traz. Acompanharemos de perto os processos criativos dos artistas, suas inspirações, e como cada obra se relaciona com o lugar, criando uma experiência imersiva que convida o público a interagir e sentir a arte em sua forma mais pura e envolvente.
Descubra mais sobre cada artista e suas criações exclusivas, e explore as intervenções que transformam este monumento neoclássico em um mosaico de sentimentos, histórias e conexões entre o passado e o presente. Cada instalação é uma peça deste grande quebra-cabeça artístico que convida o público a vivenciar o amor e a fé sob novas perspectivas.
Fernada Romão
Fernanda Romão é uma artista visual autodidata de São Paulo, conhecida por sua abordagem autêntica e visceral à criação artística. Optando por um caminho fora dos moldes acadêmicos, ela prefere um processo intuitivo, guiado por suas experiências pessoais, acreditando que a formação formal poderia distanciar sua arte de sua verdadeira essência. Seu trabalho, em destaque na exposição "Para Falar de Amor", explora instintos primordiais e emoções profundas, frequentemente representados por lobos e aves. Esses símbolos expressam a dualidade entre o selvagem e o acolhedor, refletindo sua visão sobre o amor, a política e a vida.
Romão foca em temas como a selvageria, vulnerabilidade e a liberdade criativa, resistindo a pressões externas e criando uma arte que emerge de um processo íntimo e genuíno. Para ela, a prática artística não deve atender às expectativas instantâneas da sociedade ou dos algoritmos culturais, mas sim ser um espaço de cura e acolhimento, representado pela delicadeza de elementos naturais presentes em suas obras.
Com exposições em diversas mostras, a artista vem ganhando reconhecimento por sua abordagem única e provocadora, instigando o público a repensar o papel do artista no mundo contemporâneo. Romão se destaca por sua capacidade de criar narrativas que desafiam as convenções e reimaginam o que significa ser artista hoje.
Sobre as obras:
Rawr, Quedando Um Sonho Poético
Um convite ao sentimento e a reflexão de como figuras e palavras podem ocorrer em sonhos, tratadas como concretas na formação do inconsciente e na poesia.
A condensação de sonhos, conceito freudiano, se encontra com a poesia concreta que permite criar palavras-valises com significados variados e que se conectam ao núcleo do sonho, onde pensamentos densos resistem à interpretação.
Exploramos a densidade e sensações por meio de figura, poesia concreta (Augusto Campos), que vai direto à medula, sendo uma atualização "verbivocovisual" da palavra, é a palavra explorada ao máximo em suas possibilidades, texturas, profundidades, luz, som e imagem, de forma a envolver o espectador em estímulos.
Essa obra da artista Fernanda Romão faz parte de “Para Falar de Amor” pois a artista a considera como um espelho múltiplo que, em vez de reforçar o “eu” em sua suposta centralidade, fragmenta e revela aberturas para o inconsciente. Abrir o inconsciente traz notícias de sonhar, que nesse contexto traça uma linha transversal com a fé, é acreditar, imaginar que mesmo pensando em estar próximo a sensação de queda, podemos alçar voos.
Compoe-se de escultura figurativa de onça, projeção, som autoral que visa reproduzir a profundidade entre o momento que sonhamos e quando nos puxamos de volta a despertar, poesia concreta e movimento, por meio de vento e camadas finas refletivas.
Feathers and Wolves
Ao evocar figuras de lobos e aves, a obra de Fernanda Romão, desenvolvida durante o processo criativo da exposição 'Para Falar de Amor', explora de forma profunda a dualidade entre selvageria e afeto. A articulação desses símbolos sugere uma reflexão sobre os impulsos primordiais e as complexidades do amor, confrontando a tensão entre o instintivo e o acolhedor.
Historicamente, temas políticos, de confronto ou de grandes questões sociais foram tratados como o cerne do pensamento intelectual nas artes. No entanto, em um momento em que discursos artísticos frequentemente ecoam mensagens superficiais ou utilitárias, a exposição propõe um convite à introspecção e ao reencantamento. As penas, elementos recorrentes na obra, representam essa transição: da dureza das disputas ideológicas para o espaço da vulnerabilidade e da criação íntima.
Fernanda Romão, autodidata, imprime em sua obra a marca de uma prática que rejeita o academicismo e a formalidade técnica em favor de um processo visceral, intuitivo e pessoal. Ao distanciar-se de influências teóricas, sua produção artística emerge diretamente de suas vivências e sensibilidades, sem a mediação de discursos externos. Sua prática é, portanto, uma afirmação de autonomia criativa, que resiste às demandas da contemporaneidade por relevância imediata, algoritmos e tendências.
Ao questionar o papel do artista e da arte, Romão nos provoca a reavaliar a função da criação no mundo atual. Em vez de atender expectativas externas, ela reivindica um espaço para o que é visceral, para o que brota do íntimo e da experiência humana. Sua obra convida o público a abandonar o conforto da retórica política e a abraçar a complexidade emocional do fazer artístico, como forma de resistência e renovação.
Arthur Grangeia
Poeta Visual, Arthur Grangeia se formou em arquitetura pela Belas Artes, em 2004. Seu trabalho nas artes plasticas, busca o encontro e intersecção dos diferentes tipos artísticos, misturando, por exemplo, literatura com artes plásticas, azulejaria e poesia. Desenhando com palavras, Arthur dá vida ao mundo imaginário que experimentou ao ler cada obra literária. E com uma nova representação, em forma de poesia visual, as páginas do livro ficam eternamente abertas para mais interpretações, sensações e significados aos olhos de novos leitores artísticos.
Navegando por diversas tecnicas, Arthur trabalha com a mesma proposta, criar poesias visuais, seja atraves de suas aquarelas ou atravez de sua azulejaria presente em diversas obras arquitetonicas pelo pais.
Sobre as obras:
Amor a literatura
Na obra “Amor a literatura”, Arthur Grangeia utiliza carvão para criar uma pintura sobre um conjunto de livros antigos, formando uma tela única e tridimensional. A figura central é uma deusa que simboliza a união entre a literatura e a natureza. Com raízes que se estendem pelas páginas dos livros, a deusa representa o crescimento e a expansão do conhecimento através da leitura. A escolha dos livros usados como suporte não é apenas uma homenagem à literatura, mas também um convite à sustentabilidade e ao reaproveitamento de materiais. Esta obra busca inspirar os espectadores a redescobrir o prazer da leitura e a conexão profunda entre a natureza e o saber.
Floresta em Azulejos
“Floresta em Azulejos” é uma obra que une a delicadeza da pintura em azulejos com a profundidade da poesia. Inspirada pelo poema que afirma que “se a poesia não surgir tão naturalmente como as folhas de uma árvore, é melhor que não surja mesmo”, esta peça retrata uma floresta exuberante, onde cada folha e pintada à mão.
A escolha dos azulejos como meio não é apenas uma homenagem à tradição brasileira, mas também uma forma de eternizar a beleza efêmera da natureza. Cada azulejo, com suas nuances e detalhes, contribui para a criação de um mosaico que celebra a interconexão entre literatura e natureza.
A obra convida o espectador a mergulhar em um ambiente sereno e contemplativo, onde a poesia visual e escrita se encontram. É um lembrete de que a arte, assim como a natureza, deve fluir de maneira orgânica e espontânea.
Basiches
José Ricardo Basiches é sócio fundador da Basiches Arquitetos, reconhecido por seus projetos premiados no Brasil e no exterior. Com uma abordagem que une praticidade e sensibilidade, ele cria conceitos arquitetônicos que valorizam o bem-estar e as boas sensações. No campo artístico, participou de exposições como Traços DuZé (2022) e Casa Cor SP (2022). Sua instalação mais recente estará em nossa exposição, em um antigo banheiro do convento, que reflete sobre convivência e respeito às diferenças, utilizando silhuetas e cabeças de manequins para sugerir a presença e diversidade humana. Basiches já foi laureado com prêmios como o American Architecture Prize (2016) e o Architizer Award (2017).
Sobre a obra:
A instalação é uma reflexão delicada e poética sobre convivência e respeito às diferentes crenças e pessoas, utilizando como cenário o banheiro de um antigo convento — um espaço que carrega em si a história e a espiritualidade do lugar. A proposta de manter a estrutura original quase intacta revela uma sensibilidade com o ambiente, ressaltando a memória e o tempo que ali se encontram.
As silhuetas desenhadas de pessoas sugerem a presença humana em sua forma mais universal, sem distinções. Já as cabeças de manequins, representando pensamentos e olhares, funcionam como intermediárias das emoções e das ideias que permeiam o espaço. Elas são como reflexos de uma diversidade de visões e formas de existir, em um lugar onde todos são bem-vindos, independentemente de sua origem ou crença.
Ao criar esse ambiente, você propõe um espaço de contemplação, quase como um culto silencioso à coexistência pacífica e ao entendimento mútuo. A instalação convida os visitantes a refletirem sobre a harmonia entre as diferenças, transformando o banheiro em um santuário de pensamentos compartilhados e respeito mútuo. É uma obra que não apenas dialoga com o espaço físico, mas também com as histórias e as emoções que ele carrega, oferecendo uma experiência profundamente humana e inclusiva.
MICHA
Micha é uma artista visual autodidata, mãe, muralista e cenógrafa, nascida e criada em São Paulo, Brasil. Influenciada desde cedo pelos livros de genética e anatomia de sua mãe bióloga e cientista, ela encontrou sua verdadeira paixão nas artes visuais. Após se formar em publicidade e concluir uma pós- graduação,fez parte de um grupo de estudo de arte liderado pelo artista Tinho (Walter Nomura) por 10 anos. Em 2010 se reconhece como artista profissional e, desde então, está em constante evolução em sua carreira artística participando de grandes projetos ,exposições contemporâneas e de arte urbana. A linguagem de suas obras é uma expressão poética e questionadora, explorando o interior do ser e temas que pincelam a psiquê, neurociência e anatomia humana, com teor sensorial, aborda questões existenciais, dualidade, conflitos e feminismo, que estão presentes em suas pesquisas. Seu trabalho, se destaca pela expressão do coração humano como simbolismo central em algumas peças, reflete não apenas uma forte identidade artística, mas também seu compromisso com a pesquisa científica, especialmente em colaboração com o Instituto Heart Math (EUA), onde estuda os mistérios, influências e descobertas desse protagonista. Sua extensa trajetória inclui participação em exposições coletivas e individuais no Brasil e no exterior, bem como prêmios em salões de arte, projetos urbanos ,culturais e sociais ,bienais e residências artísticas internacionais.
Conexões do Pulsar: Reflexos do Coração
A obra propõe uma imersão sensorial em um espaço onde os corações se conectam, não apenas por formas, mas pelas energias invisíveis que nos cercam. As linhas que se entrelaçam ao redor das paredes representam as ondas eletromagnéticas, invisíveis, porém presentes em cada pulsar. Elas são a manifestação das forças que nos unem e conectam em redes emocionais e biológicas, ecoando o ritmo vital que sustenta a existência.
A iluminação vermelha, suave e envolvente, cria um ambiente de introspecção e simboliza o sangue que flui, o calor da vida. O coração centralizado, é protagonista. Revestido em espelhos, refletem não apenas o ambiente, mas também a experiência de quem o observa. Ele revela, em cada fragmento, múltiplas perspectivas e versões do Eu, destacando a relação entre o indivíduo e o coletivo, entre a intimidade do coração e a vastidão das conexões que o transcendem.
Ao caminhar pela sala, o visitante se torna parte da instalação, refletido e conectado, seu próprio coração em sintonia com as vibrações do espaço. Assim, a obra convida à contemplação da interdependência e à percepção de que estamos todos conectados por energias invisíveis.
Esse conceito explora a relação entre corpo, energia e conexão, transformando o espaço em uma experiência introspectiva e sensorial cheia de amor e afeto.